sábado, 21 de junho de 2014

O PERDÃO

O perdão é um princípio fundamental para a vida cristã; uma das coisas que mantém muitos em cativeiro hoje é a falta de perdão. Falar de perdão é falar de experiência individual. Não dá para falar de Perdão sem se lembrar de experiências vividas no passado. 

Lembro de minha infância amarga e triste em que vivi com minha família em uma favela em Duque de Caxias – RJ. 

Como se fosse hoje, recordo com muita emoção em meu coração, meus pais separados e o choro a cada noite de minha mãe com três filhos para criar. Foram momentos únicos que não se apagam da memória de uma hora para outra, ou por ter se convertido ao evangelho do amor. 

A maioria está muito bem com o princípio do perdão, mas nunca realmente executam o seu pleno significado em sua vida, a falta de perdão é uma escravidão destrutiva, causando contendas, divisão, opressão, doenças diversas e divórcios.

Isso tudo vi se revelar em minha mãe, uma mulher forte, porém sem proteção de um “homem” (seu marido) para vencer as dificuldades que estava sendo proposta, afinal ter três filhos para criar não era uma tarefa tão fácil..., de dia, gritava, lutava, conquistava de noite amargurada de coração chorava e praguejava um homem que idealizou como seu príncipe, meu pai! Triste depois de algum tempo, depois de “você não ter culpa em estar no mundo” e sofrer com espancamentos e fomes sem ter um colo para te aquecer ...ter que catar comida, e vender balas no transito, para poder comer, condenada a viver a mesma história que muitos viviam e vivem..., abandono .. sim essa é a palavra! Mas essa se repetirá enquanto não recebemos ajuda divina ou até de outras pessoas, necessário do ponto de vista dos outros a fim de verdadeiramente compreender a nós mesmos. Podemos então optar por uma vida nova e diferente, quando olhamos para isto tudo, e lembramos que ainda há esperança... sim esperança essa que se concretizou quando ele voltou, sim meu pai o príncipe de minha mãe voltou..., foi oração não sei não lembro, mas sei de uma coisa, o Deus que eu desconhecia estava lá comigo a cada choro e a cada sofrimento que tive que viver. Agora você que está lendo pode me perguntar: o que isso que foi relatado tem haver com perdão? Triste né? Vou te falar...meu coração se fechou...não via meu pai mais como o super-herói que tinha idealizado, quando ele chegava com doces para eu repartir com meus irmãos, só me lembrava que na ausência dele passei fome, tive que ver minha mãe descontar nas minhas costas toda a raiva que ela tinha dele...e por causa da falta de proteção dele, meu pai, meu protetor terreno, que sofri violências...violências que carrego as marcas pelo meu corpo até o dia de hoje. Mas uma coisa aprendi, que quem não aprende com passado vive preso a ele. 

Jesus sabia que as pessoas jamais poderiam entender completamente a vida, assim era eu... usando apenas o intelecto ou definindo meu momento. Ele não disse “vou ensinar a vocês o que é verdade” Ele apenas disse: "Eu sou a verdade” Ele sabia muito bem que a mais elevada forma de conhecimento decorre de relacionamentos em que existe e exige confiança mútua, e não de grandes quantidades de informações, e a informação que tinha naquele momento era que eu estava abandonada juntamente com minha mãe e irmãos, mas depois de alguns anos entendi um princípio espiritual: "A verdade mais profunda é aprendida através de nossos relacionamentos". Meu relacionamento com Deus foi a fonte de limpou meu coração, Ele me ensinou o que é: "misericórdia quero e não sacrifícios..." lição de que não devemos determinar nossos próprios passos, mas sim, nos deixar levar pelo ritmo do Senhor – devemos nos determinar pela sua maneira de andar. O andar de Deus se cumpre num caminho bem definido. Jesus seguiu por esse caminho de sofrimentos, isso tudo foi por mim, foi por você, difícil entender esse PERDÃO que não tem explicação ou conceito, Fomos perdoados de uma dívida que nunca poderíamos pagar, qualquer dívida para nós é minúscula em comparação ao que recebemos, fomos regenerados, justificados, santificados por Ele! Me sinto resgata para uma nova vida, nova história, novas emoções. Essa vida com Deus nunca será construída em um dia. Ela começa com a consulta habitual com o Pai, hora após hora, como fez Moisés no Egito. Mas progride para períodos maiores e mais freqüentes de comunhão, encontrando consumação e satisfação em dias e noites de intercessão, e espera, e relacionamento santo. Tenho construído relacionamento profundos com meu pai, pois o mesmo hoje é acometido de doenças... castigo de Deus? Não sei...e nem desejo saber! Mas de uma coisa sei muito bem, como eu amo o meu pai, que Deus me deu, quando pude dizer essa frase e materializar ela no meu interior vi diante de mim, o verdadeiro significado do perdão, levou me a entender que o conhecimento da verdade nos leva a um amor não fingido. Glória a Deus nas alturas, pois hoje posso dizer, sinto o o efeito do perdão dado a mais de dois mil anos atrás e vivo o perdão de perto em meus relacionamentos.

Seguindo...

"Esquecendo-me das coisas que para trás ficam avanço para que estão diante de mim...." Fp 3.13

Mais o que é perdão?

Definição de Perdão: Conceder indulto gratuito ou remissão de qualquer ofensa ou dívida; desistir de toda reivindicação. A palavra grega traduzida como “perdoar” significa literalmente cancelar ou remir. Significa a liberação ou cancelamento de uma obrigação.

Depois de passados alguns anos aprendemos que o perdão é uma ordem não uma sugestão dada numa reunião com irmãos. Mateus 6:14-15, é fato depois que o Senhor ensinou Seus discípulos a orar. O perdão é um ato volitivo. Não um sentimento, mas uma decisão. É contínuo (passado, presente e futuro). É do espírito – e não a carne, não a alma. - Você deve ser capaz de ver o seu agressor como um espírito vivo, não um inimigo, não como um desafio no caminho da vida, não como um obstáculo no seu caminho para o paraíso. A conciliação é sempre a resposta. Não podemos permitir quaisquer áreas de falta de perdão em nossa vida. Devemos manter nossa consciência limpa e manter-nos em comunhão. A falta de perdão é um pecado que bloqueia a prosperidade, nos deixa amargos e os nossos corações endurecidos.

“Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando vos perturbe, e por ela muitos se contaminem” Hebreus 12:15

Conclusão: O perdão é a chave para liberdade.

"Porque te esquecerás do cansaço, e lembrar-te-ás dele como das águas que já passaram." Jó 11:16

Juliane Leandro - Colaboradora
Formada em Teologia
Professora, pregadora e palestrante
Congrega na Assembleia de Deus

Bairro Amazonas - Campo Grande-RJ

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O pecado da simonia Uma versão protestante

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Simonia – a palavra pode ser nova para muitos leitores, mas a prática é bastante antiga no âmbito do cristianismo. Na Idade Média, surgiu uma série de distorções na vida do clero e na administração eclesiástica. Três erros se destacaram por serem considerados especialmente danosos. O primeiro foi o “nicolaísmo”, termo derivado incorretamente de Apocalipse 2.15, o fato de que muitos clérigos viviam em concubinato, violando assim os seus votos solenes de castidade e celibato. A segunda prática condenada foram as chamadas “investiduras leigas”, isto é, a interferência de governantes civis (reis e imperadores) na nomeação e posse de altos líderes eclesiásticos, como abades e bispos. O terceiro mal na vida da igreja, esse certamente deletério sob todos os pontos de vista, foi a “simonia”.
Esse comportamento derivou o seu nome de Simão, o mágico, um personagem bíblico que tentou comprar dos apóstolos Pedro e João o poder de conceder o Espírito Santo àqueles sobre os quais ele impusesse as mãos (At 8.18-24). Assim, a simonia veio a se referir à concessão ou obtenção de qualquer coisa espiritual ou sagrada mediante remuneração, fosse ela monetária ou de outra espécie. Em outras palavras, era a compra e venda de coisas religiosas. Cometia esse pecado quem oferecia e quem recebia pagamento em troca de um bem espiritual ou eclesiástico. Na Idade Média, referia-se principalmente ao comércio de cargos da igreja. Um papa que se notabilizou por sua luta incessante contra esses males foi Hildebrando, ou Gregório VII (1073–1085), que adotou como lema de seu pontificado as contundentes palavras de Jeremias 48.10: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!”.
Curiosamente, em certo sentido a Reforma Protestante surgiu como consequência de dois casos de simonia. Um deles foi a compra do arcebispado de Mainz, ou Mogúncia, na Alemanha, pela poderosa família Hohenzollern, mediante uma negociação questionável com o papa Leão X envolvendo altas somas de dinheiro. O segundo caso ocorreu quando o novo arcebispo (e futuro cardeal) Alberto de Brandenburgo promoveu uma venda especial de indulgências, cujos rendimentos foram utilizados em parte para saldar a dívida da compra do arcebispado, sendo a outra parte entregue ao papa para financiar a construção da catedral de São Pedro, em Roma. A reação de Martinho Lutero contra esse comércio do perdão, mediante suas Noventa e Cinco Teses, foi o estopim da Reforma.
Durante séculos, o ministério protestante foi caracterizado por elevados padrões éticos, especialmente na sensível área das finanças. Seguindo o exemplo de Cristo e seus apóstolos (At 20.33s; 2Co 11.7), a maior parte dos pastores e líderes procuravam realizar o seu trabalho como uma expressão de serviço desinteressado a Deus e às pessoas, isento de ambições materiais. Mesmo indivíduos de grande projeção, como avivalistas e evangelistas de massa (Wesley, Whitefield, Spurgeon, Billy Graham e outros), jamais usaram de seu grande carisma e influência para auferir vantagens pecuniárias e aumentar o seu patrimônio. Tal comportamento sóbrio e consciencioso ocorreu em todos os ramos do protestantismo, tanto os tradicionais ou históricos como, mais tarde, os pentecostais clássicos.
Esse honroso legado sofreu um abalo lamentável e constrangedor no Brasil, a partir da década de 1970, com o surgimento do chamado neopentecostalismo. Firmados numa teologia duvidosa, resultante de uma interpretação tendenciosa e altamente seletiva das Escrituras, os principais líderes desse movimento vêm demonstrando uma atitude em relação ao dinheiro que em nada difere do velho pecado da simonia. Servindo-se do poderoso veículo da televisão e manipulando com habilidade as carências e ambições de uma considerável parcela da população, esses pregadores têm transformado o evangelho e suas bênçãos em mercadoria e fonte de lucro (2Co 2.17; 1Tm 6.5,10).
A recepção de benefícios como a cura, a prosperidade e a felicidade é condicionada à entrega de contribuições, dando-se a entender que as bênçãos serão proporcionais à generosidade do ofertante. Fica inteiramente esquecido o ensino claro de Jesus: “[...] de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8). Em consequência disso, surgiu uma geração de pastores-empresários que estão se colocando entre os homens mais ricos do país. Dominados pela ganância condenada com tanta veemência nas Escrituras (1Ts 2.5; Tt 1.7; 1Pe 5.2), estão acumulando grandes fortunas na forma de mansões, fazendas, carros de luxo e, agora, o símbolo máximo dos novos ricos – jatinhos particulares. Eles influenciam de tal forma os seus seguidores que estes, além de não questionarem tal procedimento, acham que seus líderes merecem os privilégios que usufruem.
Não se discute que os obreiros cristãos sejam remunerados condignamente pelo seu trabalho (2Co 8.14). O que se lamenta é a mercantilização da fé, que tantos prejuízos tem trazido para a causa de Cristo ao longo dos séculos, obscurecendo a graça de Deus, o seu favor imerecido. Os modernos simoníacos não só estão manchando para sempre a sua própria reputação, mas também contribuindo para prejudicar a imagem de toda a classe ministerial e das comunidades evangélicas. Suas ações têm produzido e continuarão a produzir reações negativas da imprensa, da opinião pública e dos governantes. Eles fariam bem em considerar as palavras ditas pelos apóstolos a Simão, o mágico – e se arrependerem enquanto é tempo.
Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e “Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil”. asdm@mackenzie.com.br